adormeço eu num sonho acordado do que sonhei um dia ser. o frio envolve-me como os teus lençóis me envolveram outrora. o pensar em ti provoca-me a vontade de expulsar todo o meu corpo de mim. a vontade de sentir nos meus pés descalços caminhos que nunca pisei. misturo-te com tudo o que vejo e que sinto, tal como as misturas que se fazem no meu corpo. onde a mente pensa que é coração e o coração que é mente. engano-me a escrever os sentimentos que tenho e acabo por escrever os que não tenho. quero tê-los, repito-os ao expoente da loucura na esperança que eles se tornem realidade. mas não sou quem digo ser. sou quem sou, e quem não um dia pensei. faço frases bonitas sobre ti e eles, eles que não são eles e tu que não és tu. guardo para nós o nosso amor, mostrando apenas o amor que nosso não é. e o amor que nosso não é, para mim não o quero. quero-o nas palavras, onde ele fica bonito. é lá que ele pertence, e não no meu coração. poderia até dizer que a minha imaginação foi a sua origem, e talvez tenha sido a origem do sentimento, mas não dos momentos. estes foram reais. mas, momentos sem o sentimento que hoje lhes atribuo. pois tu não és tu, és eles. e sobre ti não escrevo.
(nunca) tua,
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