8.

Meu amor,
adormeço eu num sonho acordado do que sonhei um dia ser. o frio envolve-me como os teus lençóis me envolveram outrora. o pensar em ti provoca-me a vontade de expulsar todo o meu corpo de mim. a vontade de sentir nos meus pés descalços caminhos que nunca pisei. misturo-te com tudo o que vejo e que sinto, tal como as misturas que se fazem no meu corpo. onde a mente pensa que é coração e o coração que é mente. engano-me a escrever os sentimentos que tenho e acabo por escrever os que não tenho. quero tê-los, repito-os ao expoente da loucura na esperança que eles se tornem realidade. mas não sou quem digo ser. sou quem sou, e quem não um dia pensei. faço frases bonitas sobre ti e eles, eles que não são eles e tu que não és tu. guardo para nós o nosso amor, mostrando apenas o amor que nosso não é. e o amor que nosso não é, para mim não o quero. quero-o nas palavras, onde ele fica bonito. é lá que ele pertence, e não no meu coração. poderia até dizer que a minha imaginação foi a sua origem, e talvez tenha sido a origem do sentimento, mas não dos momentos. estes foram reais. mas, momentos sem o sentimento que hoje lhes atribuo. pois tu não és tu, és eles. e sobre ti não escrevo.
(nunca) tua,
m

7.

Meu amor,
seriamos quem nós? se de o tempo não o fossemos. avanço agora mais uma vez contigo na mão. movimentos conhecidos pela minha mente, dançados pelo meu coração. são esses os movimentos que executas na minha morte. adormeço os pensamentos, na tentativa de acordar a sensação. sentindo-te em mim enquanto caminho para dentro de ti. e fui eu quem te abriu a porta.
(nunca) tua,
m

5.

Meu amor,
as dúvidas da nossa existência percorrem-me a mente sem descanço. não sei o que somos, fomos ou seremos. não sei o que nos originou a forma, o que nos originou a existência. não acredito na ideia de sermos simples bonecos de um criador, que como uma criança cria as suas histórias. acredito que todos temos algo, mas poucos o descobrem. e não acredito no edificio que foi criado para o criador, não acredito nas suas regras. como animais que somos, temos instintos. instintos estes que vão sendo enterrados dentro de nós com o betão que erguemos no mundo. e a nossa existência vai sendo assim apagada. e eu simplesmente não consigo apagar-nos.

(nunca) tua,
m

4.

Meu Amor,
hoje sem saberes foste meu, foste das minhas palavras. continuas aqui,  ainda não te deixei voar para onde pertences. lembraste do bernardo? tu lembras-me o bernardo, és imaginário sem o seres. às vezes não sei o que tu significas, talvez não signifiques amor, talvez signifiques um sentimento no seu estado mais puro. sinto o frio da tua ausência. por favor, faz-me voltar atrás. continuo aqui, a tua pequenina. talvez seja esse o truque, como uma vez me disseste, mas o truque esse guardo para nós. calhou ver-te numa das ruas pálidas por onde passei, no meio desta selva, onde o homem pensa que é rei. talvez seja assim, só sabemos sentir-nos à distância. nota-se muito as saudades que tenho tuas? só sei ter saudades tuas, e após tanto tempo continuam aqui. tal como o pensamento, que não vai embora. os sitios, as memórias continuam comigo, tudo menos tu. não que te queira, oh, nada disso. quero sentir-te assim, à distância em mim.
ainda olhas para o céu? ainda esperas que as nuvens partam sem eu lá estar? senti-te mais em mim quando não te sentia na minha pele do que quando senti.
(nunca) tua,
m

3.

Meu Amor,
sinto que esta crescente de sentimentos indesejados do desejo de, empurram para fora da minha mente os sentimentos que deveria sentir. sinto-te a ser levado de mim. limpo-te da minha mente e alma, sem ter consciência disso. será a mente alma, e a alma mente? sinto-me entorpecida, sinto-me com frio. como se o calor dos dias não aqueçam mais do que a minha pele. pois afinal, este frio sempre esteve aqui, à minha espera, à espera da tua partida. agora que lentamente a fazes, ele envolve-me enquanto eu devia ser envolta no teu calor. não sei falar de amor, e não sei falar (agora) em algo mais do que amor. pois o amor que falo, engloba tudo o que eu um dia não fiz, o que eu um dia não perguntei, o que eu um dia não disse. ou talvez tenha feito isso tudo na tua presença, olhando para a tua alma e sendo ignorada pela tua mente. gritaria que estou aqui se me ouvisses. mas tu não és tu, és eles.
(nunca) tua,
m

2.

Meu Amor,
preciso das tuas palavras, preciso que me contes histórias sobre o pássaro que pássaro nunca foi.
quero novamente questionar o mundo debaixo da lua, perguntar-te o porquê da nossa existência, e receber um abraço em troca. nunca mal me fizeste, mas eu fui-me embora sem voltar, ou voltando sem ir embora. sem nunca ter sido tua, fui mais tua do que minha. voltam-me as dúvidas, foge-me a lua. mas eu ainda ouço a sua canção. ela diz-me que sentir a tua falta é sentir-te em mim.

(nunca) tua,
m

1.

Meu Amor,
não sabes o quanto tens dançado à minha volta ultimamente, sempre no mesmo ritmo de saudade. empurrar-te de nada me vale, seguras-me como quem segura o mundo, talvez seja esse o peso que transporto nos meus ombros. por vezes não sabes a vontade que me dá, de o pousar, e dançar contigo. mas lá me faço de forte e aguento-o nos meus ombros, esperando que venha alguém tirar-me-o. claramente que sei que tal não irá acontecer, pois a única pessoa que o poderia fazer eras tu, e a ti só te deixo dançar à minha volta.
enquanto aqui estás, deixa-me contar-te histórias novamente. eu sei que as gostavas de ouvir, e chamavas-me a menina das letras, ela esteve escondida durante tanto tempo que não sei se consigo voltar a sê-lo, talvez precise de ti para a ser.
falo de ti como se nunca tivesses ido, e penso em ti como se ainda estivesses. quero voltar a ti, quero voltar a ter os teus braços à minha volta. é tudo preto no branco, dizias-me tu, quero ver o mundo novamente assim, sabes que sempre fui boa a dar nós no fio que nos prendia.
já te disse que tens dançado muito à minha volta ultimamente?
conta-me histórias. conta-me a nossa história.

(nunca) tua,
m